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Salt


Quando lançado em 2002, a Identidade Bourne, a primeira parte de mais uma possível trilogia de ação, foi apenas um mero filme qualquer: um agente que não sabe quem é, o que faz e o porquê está sendo perseguido, tiros, explosões e correria. A típica fórmula de Hollywood que o público e a crítica adotaram apenas como um novo filme de ação que nada mais era senão um bom entretenimento.

Com a Supremacia Bourne, o segundo da franquia, a história pareceu de fato mostrar seu diferencial: um roteiro bem escrito, seqüências de ação que, diferente das demais do gênero, cativavam o público e devido às novas técnicas de filmagens empregadas, a sensação era de imersão na situação retratada. Contudo, apesar dos bons resultados, foi tido pela crítica apenas como melhor que o primeiro, um bom filme de ação.

Porém tudo mudo mudou com O Ultimato Bourne, que não só se mostrou o melhor da trilogia como implicou em diversos efeitos na opinião da crítica que elevou a trilogia Bourne à qualificação de melhor franquia de ação já feita, ou seja, os bons foram então tidos por melhores: o infeliz defeito da crítica que em sua falta de opinião consistente eleva ou rebaixa uma produção muita das vezes levando em consideração questões políticas ou financeiras ao invés de considerar unicamente a qualidade da produção, conceitos que não só fizeram de Bourne um novo gênero, como o caracterizaram como o ideal de uma boa ação.

A trilogia Bourne é sim uma das melhores já feitas, uma ação inteligente, cativante e bem escrita, porém tudo se deu de maneira gradativa em que um simples filme implicou em outros cada vez melhores e que conquistou sua consagração ao término de toda a história. Porém acabou, e Bourne não deve ser tido como uma contínua referencia ao se julgar filmes de ação, filmes devem ser julgados por suas qualidades e defeitos sem a comparação de terceiros que se mostraram melhores. Cada produção é uma nova produção e um mesmo gênero nem sempre deve implicar em um roteiro semelhante.

Salt, dirigido por Philip Noyce, de O Santo e O Colecionador de Ossos, conta a história de Evelyn Salt, uma oficial da CIA especializada em interrogatórios que é acusada por um agente soviético de ser uma espiã russa infiltrada na segurança americana cuja missão (planejada há anos, quando todos os envolvidos ainda crianças já eram treinados) é matar o presidente russo em território dos estados Unidos a fim de implicar uma severa guerra entre as duas nações. Salt então se vê contra sua própria equipe que passa a persegui-la sem maiores contestações enquanto tenta provar sua inocência.

Dentre todas as qualidades do filme, sem dúvida a primeira a ser destacada é Angelina Jolie que em um papel escrito a princípio para Tom Cruise (que se recusou a aceitá-lo), cria no cinema o que há tempos não se faz de maneira bem feita (ou jamais se fez): uma heroína que de fato convence e cativa o público.

Milla Jovovich em Resident Evil, Halle Berry no ridículo Mulher Gato e tantos outros e a própria Jolie em Lara Croft, são exemplos das fracassadas tentativas em se criar uma personagem cujo público se identificasse e torcesse por seu sucesso na trama, algo que chamasse a atenção, empolgasse e se fizesse valer na narrativa: as exatas qualidades de Angelina Jolie que são adquiridas em Salt, cujo roteiro também lhe ajuda a conquistar tais feitos.

Bem escrito, repleto de reviravoltas (em todos os sentidos que a palavra possa abranger) e com uma ação ininterrupta, Salt não que se mostrar um clássico da ação ou uma produção que se destaque por um roteiro inteligente e essa é sua maior qualidade, o simples objetivo de entreter, uma história superficial, porém que convence e empolga (ainda que o desfecho nada tenha de superficial e sim uma jogada inesperada que verdadeiramente funciona e faz tudo ser ainda melhor) e consagra Jolie como a única atriz que se destaca no gênero.

É difícil de compreender o porquê Salt não foi bem aceito pela crítica que insiste em procurar obras-primas na ação (quando o próprio filme não quer se mostrar algo sério e sim apenas uma boa diversão que de fato funciona, assim como o primeiro Bourne que hoje é engrandecido pela mesma crítica que um dia o ignorou e que o compara a qualquer filme de ação lançado).

Salt é um bom filme, que empolga e que entretém sem se preocupar a princípio com um roteiro concreto e de destaque, uma possível trilogia que com toda a certeza há de ser uma nova “vítima” da ridícula crítica de opinião variável que o elevará ao posto de melhor ação já feita e então a comparação Bourne passará a ser a comparação Salt, o filme que um dia a própria crítica o qualificou como “um novo péssimo Jason Bourne”.

Contudo, Bourne, como Salt, foi algo bom, assim como diversos outros filmes são: boas produções que se destacaram por suas qualidades. E apenas isso.

Ponto final nesta história que a crítica profissional, amadora e aquela que se baseia nas opiniões dos demais, infelizmente, insistem em manter.

Zona Verde


É fato, filmes cujo enredo tem como cenário o Oriente Médio não são rentáveis, possuem míseras bilheterias e atualmente parecem não ter sua merecida participação nos cinemas, até mesmo Guerra ao Terror, o “grande” vencedor do Oscar 2010 e elogiado pela crítica, ainda assim não conquistou o público, empoeirou nas videolocadoras e passou a encabeçar a lista dos vencedores do Oscar que menos lucraram na história do cinema (apenas o suficiente para cobrir os custos da produção), mas ainda assim foi exaltado por toda a crítica como um exemplo de inovação : a infeliz política que infelizmente se mantém ativa na Academia (não fosse a falsa moral americana levantada no desfecho de Guerra ao Terror e jamais haveria atenção alguma e seria apenas mais um que passaria batido por todos).

Entretanto, produções que se passam no Oriente Médio, assim como qualquer outro filme, não devem ser taxadas como ruins, afinal, a classificação de uma produção não é dada baseada no cenário em que se passa ou em um pré-conceito criado mediante a análise de seus antecessores. Uma triste injustiça que acomete Zona Verde, do diretor Paul Greengrass, que também dirigiu os dois melhores da trilogia Bourne e mostra mais uma vez que a fórmula do agente secreto ainda empolga como nenhuma outra.

Tendo como ator principal Matt Damon (sim, o próprio Jason Bourne), Zona Verde conta a história do sargento Roy Miller, um oficial do exército americano que como tantos outros, tem a missão de encontrar as armas de destruição em massa que supostamente foram escondidas por Saddam Hussein em áreas específicas do território de Bagdá. Contudo, depois de seguir diversas pistas frustradas de seus oficiais, Miller passa a suspeitar de que tudo não passa de uma simples encenação em que os verdadeiros motivos de estarem ali ainda permanecem ocultos. E é então que, sozinho, desafiando regras e seguindo princípios contrários a de seus superiores, ele resolve seguir em busca da verdade e encontrar a razão que faz com que o exército americano insista em permanecer no território. O que o torna um inimigo e uma séria ameaça que deve ser detida.

Agentes da CIA, comandantes, jornalistas, perseguições e uma narrativa que caminha em um ritmo rápido que faz com que o espectador de fato se sinta imerso em todo o clima de tensão e agitação que caracteriza toda a narrativa: a típica fórmula de Bourne que infelizmente parece ser a única coisa destacada pela crítica que simplesmente classifica Zona Verde como uma mera cópia do agente secreto.

Sim, realmente tudo se desenrola como a trilogia (além do diretor e ator, até mesmo a câmera trêmula é empregada), porém aqui há outro plano de fundo, outras razões para todas as perseguições, uma moral e uma conciliação que poucos do gênero sabem fazer: a ação com inteligência, tiros, explosões e correria que realmente são necessários ao desenvolvimento de toda a história. Uma produção cujo roteiro tem fundamentos e a ação é uma conseqüência de todas as razões. Além disso, não fosse somente o roteiro brilhante adaptado do livro Imperial Life in the Emerald City: Inside Iraq`s Green Zone e o desenrolar tenso que faz com que o público receba as informações e as processe na mesma velocidade em que seu protagonista, Zona Verde se destaca também por suas atuações.

Matt Damon, claro, nasceu para o papel, cativa o público já nos primeiros minutos e a cada instante convence ainda mais e de igual maneira conduz o filme a seus verdadeiros objetivos, assim como o coadjuvante Khalid Abdalla, como o afegão Freddy, que sempre que aparece em cena torna tudo ainda mais empolgante.

Enfim, uma produção em terras do Oriente Médio que realmente chama a atenção e foge dos típicos desfechos americanos. Uma moral que lhe rendeu uma péssima aceitação nos Estados Unidos, uma fraca divulgação nos países em que foi distribuído e que lhe implicou em apenas um terço do custo da produção e um final que se preocupa apenas em retratar a verdade de toda a situação, sem se importar com política alguma e faz disso sua maior qualidade: o anonimato por uma história realmente boa, inteligente e cativante. Ponto para Bourne.

 
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