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O Amor e Outras Drogas


Se há um gênero que definitivamente não funciona é a comédia romântica, afinal não só depreciar a imagem de um ator em um roteiro leve, mal escrito e por vezes sem lógica alguma, não há nem romance nem comédia, não há de fato uma relação amorosa que seja reconhecida pelo público e muito menos alguma graça que faça todos darem verdadeiras e boas risadas, o maior exemplo acontece com Jennifer Aniston, uma grande atriz, com todas suas características que a tornam única na maneira de atuar, mas que, insistindo nas comédias românticas, há tempos não se destaca e se tornou apenas uma mera atriz do gênero, inibindo todo seu potencial que mostrou ao longo de dez anos em Friends. Comédia romântica, salvo o único e memorável 500 Dias Com Ela (e todo mérito a Marc Webb e a Joseph Gordon-levitt), é um gênero sempre mal feito que implica em algo morno, banal e que em nada contribui. Ou é romance ou é comédia, é melhor não se aventurar na misturas de gênero.

Chega então O Amor e Outras Drogas, uma produção que se intitula “comédia-dramática”, que tinha tudo para cair na mesmice dos demais filmes do gênero, mas resolveu se mostrar diferente: começar de maneira leve e gradativamente transformar o roteiro, lhe dar o aspecto sério que uma boa narrativa exige e ao fim, revelar uma ótima história, mas que infelizmente pode perder sua credibilidade devido a sua comprometedora maneira em enfatizar e expor o sexo.

O filme, com Jake Gyllenhaal e Anne Hathaway, se divide em duas parte: a primeira (morna, aparentando ser algo sem conteúdo e banal), narra os dias de Jamie Randall, um mulherengo vendedor de eletrônicos, que tem toda e qualquer mulher que deseja (acredite, com menos de 5 minutos de filme ele transa três vezes!), que ao ser demitido resolve partir para a indústria farmacêutica e em uma de suas idas a um consultório médico conhece uma paciente, Maggie, uma mulher alegre, expressiva que nada mais quer senão se aventurar e assim aproveitar a vida, e juntos, é claro, se relacionam sem compromisso algum senão sexo. Porém aos poucos a relação vai ganhando seriedade e é quando Jamie finalmente se convence que está apaixonado por Maggie, que sofre de Mal de Parkinson, se nega a aceitar a doença e esconde seus anseios e medos em relações sem compromisso algum, simples aventuras que a façam se esquecer de seus problemas que a cada dia se tornam mais agravantes. É quando as cenas de sexo são deixadas de lado, não há interesse em se fazer humor, o roteiro é aperfeiçoado e tudo aos poucos se torna melhor.

A muitos, a melhor qualidade do filme, que é a de alterar a maneira como a narrativa se inicia, pode ser algo extremamente ruim, afinal, aos que se agradam do roteiro inicial e a maneira como ele é levado (uma leve narrativa, sem compromisso algum com qualquer tipo de complexidade), o fato de ter de encarar uma mudança no foco da trama com certeza não agradará, pois estarão esperando apenas uma nova fraca comédia romântica com constantes cenas de sexo, ou seja, um filme ruim sem conteúdo algum que só se mantém por seu elenco, o que de fato O Amor e outras Drogas é até o início da segunda metade do filme, em que, reconstruindo e aperfeiçoamento os objetivos da narrativa, passa a dar a história a atenção necessária que o roteiro exige, o filme passa a ser levado a sério, deixa de ser apenas uma brincadeira entre grandes atores e passa a ser algo com conteúdo e bem feito.

Portanto, para que o resultado agrade, o filme deve ser encarado como um romance, uma história que, sem apelar a dramas extremos, consegue cativar o público e de fato mostrar um casal que emociona (até por que a fraca comédia que se tenta não funciona em cena alguma).

Quanto às constantes cenas de sexo não há uma explicação lógica do porquê existirem, afinal, sem elas o resultado final ainda assim poderia ser o mesmo e o filme não se banalizaria tanto entre o público que não há de encará-lo como uma narrativa carregada de complexos conceitos, quando pode apenas encará-lo como uma mera produção em que dois rostos bonitos encenam constantes cenas de sexo, dois atores carregados de potencial , mas que são subestimados pela banalidade da linha narrativa inicial que aos poucos se molda permitindo que ambos se sobressaiam e conduzam a história para que de fato alcance seus objetivos e se revele um roteiro bem escrito e cativante. É claro que o os dois ainda estão melhores juntos em Brokeback Mountain, quando a seriedade da trama ao longo de todo o filme permitia tal destaque, mas conseguir transformar uma narrativa a princípio banal e sem razão alguma em um romance que emociona e pelo qual todos torcem é a prova inegável de que estão à toda e hoje são um dos melhores.

A Rede Social


Um forte marketing que antecede a estréia de uma produção pode ser algo extremamente positivo, que crie expectativas com relação ao que se irá ver nas telas e que por conseqüência implique em uma rentável bilheteria que satisfaça aos ávidos espectadores que anseiam por um ótimo trabalho, ou então uma complicada e triste decepção que, ao se ver o tão esperado resultado, em nada acrescente, senão um profundo desgosto. Porém, tudo é ainda melhor quando o processo se inverte: uma baixa expectativa ocasionada da descrença no possível bom resultado de uma produção que é contraposta a um grande filme, surpreendendo assim a todos que aguardavam um novo fiasco, afinal é justamente quando não se espera nada, que uma boa produção surpreende, torna-se o centro das atenção, e arranca seus merecidos elogios, assim foi com Quem Quer Ser Um Milionário? e o com o futuro vencedor do Oscar de Melhor Filme (e disto tenho certeza), A Rede Social.

Nos últimos tempos David Fincher tem mostrado uma gradativa melhora em suas produções, erros dos últimos trabalhos foram corrigidos e na busca pela perfeição de uma produção, todo o conjunto da obra parece ser meticulosamente calculado e produzido de modo a se criar um grande filme que agrade a todo o público: Clube da Luta, Zodíaco e O Curioso Caso de Benjamin Button são memoráveis exemplos de tais fato. Por isso, quando se soube que Fincher trabalhava na produção do filme que contava a história da criação do Facebook a surpresa e o desânimo foram fatores predominantes, afinal para muitos, se tratava apenas de uma história de adolescentes nerds de Harvard que, “acidentalmente”, criaram a mais famosa rede social da web (a maneira mais chula e hipócrita de se resumir o processo de criação do maior negócio baseado em plataformas virtuais depois do gigante Google), mas não só isso, David Fincher ainda estava em seu constante processo em busca da perfeição e por isso, sem se esquecer do bom cinema, retratou brilhantemente a história de maneira cativante, prendendo a atenção do público durante todo o tempo (ainda que os fatos sejam do conhecimento de muitos) e com um elenco jovem e desconhecidos pela maioria, fez tudo ser ainda melhor, transformando o que por muitos era apenas um mero filme que tratava de adolescentes, em um filme maduro, interessante e reflexivo.

Jesse Eisenberg, do divisor de opiniões Zumbilândia, faz o papel principal de Mark Zuckerberg, o anti-social e brilhante estudante de Harvard de maneira exemplar, afinal, não só nas falas (em que até mesmo reproduz o ritmo rápido do verdadeiro Zuckerberg em se expressar!), mas também nas características inefáveis do personagem: a maneira de olhar, andar e como se relaciona com tudo e com todos ao seu redor, tudo sendo executado em sincronia perfeita com a personalidade necessária a se atingir os objetivos da narrativa, transformando-o de herói a vilão de maneira fácil, gradativa e plenamente competente (garantindo sua premiação da Academia, ainda que James Franco seja o maior merecedor por seu 127 Horas , mas daí a história já é outra).

Mas de fato, a mais interessante atuação em se ver na tela é a de Andrew Garfield como o brasileiro Eduardo Saverin, o único e melhor amigo de Mark, co-fundador do Facebook que ao se ver traído, o processa exigindo seus direitos pela empresa. Não só a visão pela qual o filme encena (afinal a produção é baseada no livro Bilionários por Acaso, de Ben Mezrich, que é todo escrito baseado apenas nas declarações de Saverin, pois Zuckerberg se nega a contar qualquer fato com relação a criação de sua empresa), o mais impactante é ver um ator que até então não possui crédito algum ou uma mínima produção de destaque, roubar a cena o tempo todo e conquistar o espectador sem que seja o grande personagem da trama; Eduardo não é visto como o gênio de seu tempo e nem mesmo detém os melhores diálogos dentre todos, contudo ainda assim consegue seu merecido destaque e mostra que, apesar do anonimato até então, é um dos melhores (destaque as cenas em que contracena com Justin Timberlake, que em sua breve carreira no cinema, faz aqui sua melhor atuação e acredito, inicia, de fato, uma promissora carreira).

Um dos melhores do ano, àqueles que buscam um retrato real da história do Facebook, a narrativa certamente não será uma das melhores, afinal, claro, há o toque “Hollywoodiano” que apimenta a trama, pequenos fatores ou mínimas atitudes que, apesar de parecerem irrelevantes, ainda assim comprometem e fazem com que a história siga em ritmos necessários a se ter a atenção do espectador e converta-se em uma grande narrativa de ambições, genialidade e traição, contudo ainda assim é um grande filme e merecedor de seu destaque e sua premiação (realmente é o favorito de 2011 da Academia), pois não só contar a história da criação do maior negócio baseado em plataformas Web, A Rede Social consegue interagir com todos, sejam os espectadores usuários da rede ou não, a par dos acontecimentos ou mesmo nunca terem ouvido falar sobre Facebook: todos são acometidos pela trama, se deixam levar pela perfeita narrativa e ficam refletindo por longos dias.

Enfim, parece que David Fincher atingiu plenamente seus objetivos.

Os Melhores de 2010


Todo Final/ Começo de ano é sempre a mesma história: as velhas listas dos Melhores ( e até mesmo Piores) do ano.
2010, de longe, não foi um ano de muitas produções de destaque, afinal o que mais ocorreu foram grandes promessas que só decepcionaram o grande público e se tornaram grandes fiascos das telas (daí a razão pela qual a lista de piores foi utilizada em maior escala). Entretanto, a minoria se fez valer por seu destaque e conseguiu, em um período tão ruim para o cinema, em que um bom roteiro deu lugar a tecnologia exacerbada, se mostrar diferente, original e digna de seus prestígios.
Abaixo, minha lista das dez melhores produções do ano.
( Alguns filmes ainda não possuem crítica individual no blog, contudo em breve serão postadas).


10. Enterrado Vivo
Nos dias de hoje, em que muitos buscam uma ação constante e sequências de tirar o fôlego, é praticamente impossível imaginar que um filme de uma hora e meia, que se passe o tempo todo em um caixão e com um único personagem, pudesse chamar tanto a atenção e cativar a todos logo nos primeiros minutos e fazer de um cenário tão primitivo e limitado um roteiro como nenhum outro.

9. Atração Perigosa
Um ator que por muitos já era tido como um novo caso perdido, Ben Affleck se reergue dirigindo um filme de destaque, com um bom roteiro e uma linha narrativa magistral que, de ritmo lento, remete aos perfeitos trabalhos dirigidos por Clint Eastwod. Um resultado que deve ser visto.

8. O Escritor Fantasma
Polanski mostra que independente de suas condições pessoais, ainda assim é capaz de realizar trabalhos memoráveis, com uma narrativa de personagens realmente bem escritos e agraciados por grandes atuações e um suspense empolgante sobre a mentira, o irreal e a manipulação dos fatos.

7. Zona Verde
No mesmo ano em que Guerra ao Terror levou ( injustamente) a estatueta de melhor do ano, Zona Verde mostra nas telas a mesma temática das tropas americanas no Iraque, porém de maneira real e sem interesses políticos que comprometam o desenvolvimento da narrativa, como de fato o cinema deve ser, além disso, em um ritmo constante e clássica atuação de Matt Damon que, repetindo a fórmula Bourne, mais uma vez conduz uma ação inteligente e bem feita.

6. Kick-Ass - Quebrando Tudo
Já tido por um clássico do cinema atual, Kick-Ass consegue mesclar três características que quase nunca são bem executadas no cinema: humor, ação, grandes efeitos, um roteiro realmente bem escrito e atuações surpreendentes e cativantes que transformam um filme que tinha tudo para ser apenas mais um dois grandes fiascos de 2010, em uma produção como nenhuma outra.

5. Ilha do Medo
Uma fiel adptação, que não só prende o espectador do ínico ao fim como também consegue a típica interação que normalmente só é obtida nos livros: todos os mínimos detalhes, os diálogos perfeitamente construídos, personagens caracterizados, que de tão bem realizados se tornam os típicos figurões da trama. Um suspense cativante, de ritmo lento e realmente surpreendente, assim como a atuação de Leonardo DiCaprio que, como a narrativa, se torna cada vez melhor.

4. Invictus
O filme mais injustiçado de 2010, Invictus não só é mais um clássico de Clint Eastwood, como um exemplo de como um fato histórico pode sim ser representado nas telas e ao mesmo tempo ser uma narrativa cativante, com ação, drama e perfeitos diálogos que o façam obter uma verdadeira admiração não só pela críica ( que preferiu deixar Invictus de lado), como também do grande público. Um exemplo de cinema, uma lição de vida e um show de atuação de Morgan Freeman e Matt Damon que prova que não é apenas um mero Jason Bourne. A mais emocionate produção do ano que claro, merece ser vista.

3. Toy Story 3
Depois de 15 anos após o último filme, eis que a Pixar lança Toy Story 3, e o que a princípio era apenas medo em se ver um péssimo filme de uma saga tão criativa, logo se converteu nos melhores dos sentimentos ao se assisitir o encerramento com chave de ouro da melhor trilogia de animação já produzida até hoje. Toy Story 3, assim como seu público dos anos 90, amadureceu e trouxe em sua narrativa sérios valores e idéias, contudo sem comprometer a graça que sempre acompanhou todaa história. Um filme completo, que lavou a alma e fez todos sairem mais leves dos cinemas. E apesar do fato jamais ter ocorrido, não seria surpresa alguma se Toy Story 3, uma animação, levasse a estatueta de melhor filme. Mais do que merecedor.

2. A Rede Social
Arrisco a dizer que será o premiado da Academia, A Rede Social teria tudo para ser apenas um mero filme que trata sobre um problemático adolescente, não fosse a maneira como David Fincher conduziu a brilhante trajetória de Mark Zuckerberg. Com uma brilhante linha narrativa, o diretor faz de uma história, conhecida por muitos, algo visto sob uma nova perspectiva que faz tudo ser ainda melhor, desde a perfeita atuação de ambos os personagens principais às sequências de cena que contribuem ainda mais para o desenvolvimento da história e o interresse do grande público que, tendo já utilizado o Facebook ou não, com certeza se sentirá envolvido com a fantástica história que envolve sua criação.

1. A Origem
A mais inteligente e inovadora narrativa de 2010, é certo que A Origem não possui o melhor roteiro do ano ( entre os três últimos que encabeçam esta lista é quase impossível selecionar apenas um), mas se analisado todo o conjunto da obra, a produção de Christoher Nolan parece se sobressair. Apenas com sua ação e visual arrebatador, o filme já teria tudo para ser o sucesso do ano, mas ainda assim é também engrandecido pelo roteiro enigmático que não só cativa o espectador como o entretém durante todo o tempo, obrigando-o a pensar e compreender toda a narrativa na mesma velocidade com que o universo de Nolan se desdobra. Memoráveis atuações, sequências de ação carregadas de surrealismo e uma narrativa complexa e bem escrita como nenhuma outra.

A Origem


Desde quando foram divulgados os primeiros cartazes de A Origem ficou claro que se estava prestes a lançar uma grande produção. Não só por ser o mais novo filme de Christopher Nolan, mas porque, além do roteiro guardado a sete chaves (o que despertou ainda mais a curiosidade), eram imagens que transmitiam idéias surrealistas, conceitos de enigmas e um elenco que, independente das atuações serem boas ou não, era demasiadamente interessante. Se A Origem era algo tão bom quanto se esperava, isso ainda era incerto, mas o marketing que o antecedia realmente funcionava, e com sua estréia, tudo se confirmou e se mostrou ainda melhor: um delírio visual e psicológico que não só surpreendeu a todos, mas também se fez valer como o melhor filme do ano.

Não é de hoje que Christopher Nolan tem a fixação por idéias complexas e roteiros inteligentes que se baseiam em suspenses psicológicos, afinal, Amnésia e Insônia foram os filmes que tornaram seu nome conhecido pelo público e o consagraram como um diretor de admiração, ainda que o ápice do sucesso tenha sido alcançado com O Cavaleiro das Trevas, o melhor filme de super-herói já feito até hoje (e não há nenhum exagero nesta afirmação), portanto, o diferencial com relação a seus trabalhos anteriores é que, graças a Batman, Nolan tinha em mãos todo o dinheiro necessário ao projeto que ainda não havia tido em nenhuma outra de suas produções. Um complexo roteiro, grandes efeitos e um alto custo de produção. O mesmo Nolan, mas dessa com todo o dinheiro a sua disposição.

A narrativa, que já se inicia sem introdução alguma, ou qualquer explicação com relação a sua trama (o que faz tudo ser ainda melhor e mais interessante) gira em torno de Dom Cobb (Leonardo DiCaprio), um tipo que em seu trabalho como extrator, é especialista em roubar informações infiltrando-se na mente de seus alvos através do compartilhamento de um mesmo sonho, ou seja, uma espécie de espionagem industrial realizada no subconsciente de cada pessoa, uma ação realmente tida por um complexo projeto que é elaborado por diferentes elementos da equipe de Cobb: um arquiteto responsável pela elaboração dos cenários dos sonhos , um armador, o responsável por fazer para com que tudo saia de acordo com os planos (Joseph Gordon-Levitt , de 500 Dias com Ela), um falsificador, que , em um sonho tem a capacidade de assumir a aparência de diferentes pessoas, e um químico, que formula as diferentes drogas que sustentam os vários níveis de sono. Uma experiente equipe que recebe uma nova tarefa que, ao invés de extrair, consiste em inserir uma informação na mente de uma pessoa, fazendo-a acreditar que de fato tal idéia seja algo verdadeiro que condiz com a realidade, uma tarefa que, apesar de divergir opiniões entre os membros da equipe, é acatada por Cobb (o líder) que é motivado pela promessa de que caso a missão obtenha sucesso será absolvido dos assassinatos pelos quais é acusado e que o impedem de voltar a sua casa (os porquês, claro, são explicados somente ao longo de toda a narrativa).

A idéia de manipulação de sonhos ou a vivência em uma realidade alternativa criada em um ambiente psicológico não é novidade e já foi mostrada diversas vezes nas telas, o que pode a princípio, fazer com que muitos acreditem que A Origem não passe de um roteiro batido que se faça valer somente pela ação, e é justamente por não se encaixar nesta tese que a produção de Nolan se engrandece ainda mais. Tivesse somente o impacto visual que surpreende a todos e as cenas empolgantes e memoráveis (como a de Joseph Gordon-Levitt tentando salvar toda a situação em gravidade zero em um corredor de hotel), A origem já seria um filme de destaque, porém há outros dois fatores que o fazem melhor e o diferenciam dos demais filmes que possuem uma temática semelhante e por vezes se perdem na ação barata: perfeitas atuações e uma história que, conforme se compreende a narrativa, se torna ainda mais complexa e interessante.

A começar por Leonardo DiCaprio que vive um personagem parecido com o de seu último trabalho e que teria tudo para cair na mesma atuação que executou em Ilha do Medo mas que , apesar de ambos os personagens estarem em um suspense psicológico, faz algo completamente novo e consegue já nos primeiros minutos a empatia por parte do público, representando assim mais uma grande atuação de DiCaprio que desde Diamante de Sangue apresenta trabalhos cada vez melhores, mas que aqui ainda assim perde a cena para Gordon-Levitt, famoso pelo Tom Hansen no ótimo e inesquecível 500 Dias com Ela e que mostra para o grande púbico que é um ator que se adapta a todo gênero, desde uma leve comédia romântica a um impactante drama como o de Mistérios da Carne (desconhecido por muitos, mas que com certeza,merece ser visto), um ator que devido a sua capacidade única de atuar, há de ser a bola da vez do cinema dos próximos anos.

É certo que para alguns há de ser o enigma do ano, um daqueles filmes que muitos assistem sem de fato compreenderem o quão complexa é a trama, afinal é uma narrativa que não só exige atenção como um rápido e constante raciocínio lógico do espectador cujos anseios são os mesmos da personagem de Ellen Page, a nova arquiteta, que assim como o público, desconhece todo o universo e procura a todo instante situar-se no novo cenário em que passa a viver, ou seja, a alternativa de Nolan para ligar o público com ambiente surreal criado, que, após se tornar conhecido do espectador, faz tudo ser ainda melhor, empolgante e ainda assim surpreendente a cada novo instante.

Uma produção que, diferente de outras de seu tempo, tinha tudo para ganhar somente com seu visual, mas que preferiu ainda assim investir na complexidade e inteligência de um bom roteiro e se fazer valer por uma boa história que, se analisada atentamente se mostrará ainda melhor e maior do que a princípio aparenta ser.

Algo único e memorável.

 
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