A Árvore da Vida
Piratas do Caribe - Navegando em Águas Misteriosas
127 Horas
São três características que fazem um filme: o roteiro, as atuações e a maneira como a narrativa é conduzida, ou seja, o foco que se dá na maneira como a trama é desenvolvia. É claro que, em se tratando de cinema, há fotografia, trilha sonora, figurino e outros fatores que sim, contribuem para o resultado final de uma produção, mas que na maioria das vezes não são nem mesmo reconhecidos pelo grande público, sendo agraciados apenas em grandes premiações. Ao fim de um bom filme o que fica é a história feita por um roteiro convincente e atuações memoráveis que contribuem ainda mais no desenvolvimento surpreendente e cativante da narrativa, assim como o novo filme de Danny Boyle, 127 Horas, que em minha opinião, é de longe, o melhor filme dos indicados ao Oscar 2011.
Característica recente ou só uma feliz coincidência, a maneira de Danny Boyle trabalhar perfeitamente seus personagens e conduzir a trama a níveis cada vez mais altos, começou no perfeito Quem Quer Ser um Milionário, uma adaptação de um livro desconhecido por quase todos, que unicamente por sua história, aos poucos ganhou o reconhecimento de toda a crítica e se tornou o melhor filme do ano (o que de fato foi), sem uma produção hollywoodiana e nem mesmo atores famosos, mas com a capacidade única, como há muito tempo não se via, de cativar o público e fazer de um roteiro simples um clássico do cinema contemporâneo. É o que a acontece em 127 horas, adaptação do livro Between a Rock and a Hard Place, cuja única diferença é ter no elenco o rosto conhecido de James Franco, porém, com uma atuação impressionante e memorável que era desconhecida por todos.
A trama conta a história de Aron Ralston, um jovem montanhista que em uma de suas aventuras carregadas pelo anseio em se desbravar e aproveitar da paisagem dos cânions em Utah se vê em uma complica situação quando, sozinho, sem qualquer contato, sofre um acidente em que uma pedra solta cai sobre seu braço e o deixa preso entre uma das diversas fendas do local. É quando Aron passa a lutar pela própria sobrevivência, refletir sobre sua vida e tentar não desistir ou enlouquecer em uma situação onde cada segundo conta, e claro, prender a atenção do espectador durante todo o tempo.
É fato que não é um filme para todos, afinal muitos não acreditam que um filme com um único ator possa ser algo que merece ser visto ( como se um grande elenco significasse um bom filme), porém é justamente neste fator que se encontra o principal desafio de 127 Horas, afinal, prender a atenção do público, com um único ator, em uma narrativa cujo cenário é na maior parte do tempo uma fenda e ainda assim conseguir se mostrar um dos melhores, todo o mérito a direção, mas antes de tudo a James Franco, que consegue surpreender a todo momento.
Até então conhecido pela maioria por seu trabalho em Homem-Aranha (completamente morno e sem destaque algum), a principal qualidade de James Franco em 127 Horas é a de promover a empatia no público ao se mostrar um indivíduo normal como qualquer outro, não há exageros nem superficialidade, ele simplesmente age de acordo com o que a situação exige e que aos poucos vai se tornando pior devido aos fatores físicos e psicológicos da trama, sabendo levar a narrativa desde a um humor que alivia o clima da situação a uma profunda reflexão sobre suas dúvidas, anseios e atitudes até então (realmente memorável), destaque a cena do talk show, o ápice da atuação de James Franco, que de uma cena que poderia ser simplesmente ridícula a trama, faz dela a melhor cena do ano e faz de si uma das maiores surpresas do cinema e uma promessa como nenhuma outra ( e não nenhum exagero em se dizer isto).
É como uma minuciosa obra de arte, tudo aqui é trabalhado de maneira perfeita a se obter os objetivos da trama e promover a reflexão sugerida pela história sem qualquer esforço e nem mesmo uma atmosfera terrivelmente carregada, desde a as primeiras cenas a trilha sonora de A.R. Rahman que mesmo quando ausente parece ecoar na mente e carregar o espectador junto à narrativa.
Uma das piores futuras decepções do cinema, é certo que 127 Horas não levará o prêmio de Melhor Filme da Academia, simplesmente porque não premiam os melhores, mas os melhores que lhe convém (seja por política, dinheiro ou o simples status de alguns), mas claro, exceções existem e seria um extremo prazer ver o maior merecedor do prêmio ser reconhecido, assim como James Franco que sem dúvida alguma é o melhor de todos e seria a maior decepção vê-lo perder o prêmio para o morno Colin Firth em o Discurso do Rei (que também tem seus méritos, contudo mínimos, se comparados ao que se tem aqui).
Mas há tempos, o Oscar deixou de ser um fator decisivo em se apontar bons filmes e sua premiação nem sempre corresponde às verdadeiras expectativas. 127 horas pode não levar nada, mas ainda assim é o que é e é o melhor e se você for ver apenas um filme dos indicados, que seja ele. 127 Horas, melhor filme? Eu já estou chamando de obra-prima.
O Amor e Outras Drogas
Se há um gênero que definitivamente não funciona é a comédia romântica, afinal não só depreciar a imagem de um ator em um roteiro leve, mal escrito e por vezes sem lógica alguma, não há nem romance nem comédia, não há de fato uma relação amorosa que seja reconhecida pelo público e muito menos alguma graça que faça todos darem verdadeiras e boas risadas, o maior exemplo acontece com Jennifer Aniston, uma grande atriz, com todas suas características que a tornam única na maneira de atuar, mas que, insistindo nas comédias românticas, há tempos não se destaca e se tornou apenas uma mera atriz do gênero, inibindo todo seu potencial que mostrou ao longo de dez anos em Friends. Comédia romântica, salvo o único e memorável 500 Dias Com Ela (e todo mérito a Marc Webb e a Joseph Gordon-levitt), é um gênero sempre mal feito que implica em algo morno, banal e que em nada contribui. Ou é romance ou é comédia, é melhor não se aventurar na misturas de gênero.
Chega então O Amor e Outras Drogas, uma produção que se intitula “comédia-dramática”, que tinha tudo para cair na mesmice dos demais filmes do gênero, mas resolveu se mostrar diferente: começar de maneira leve e gradativamente transformar o roteiro, lhe dar o aspecto sério que uma boa narrativa exige e ao fim, revelar uma ótima história, mas que infelizmente pode perder sua credibilidade devido a sua comprometedora maneira em enfatizar e expor o sexo.
O filme, com Jake Gyllenhaal e Anne Hathaway, se divide em duas parte: a primeira (morna, aparentando ser algo sem conteúdo e banal), narra os dias de Jamie Randall, um mulherengo vendedor de eletrônicos, que tem toda e qualquer mulher que deseja (acredite, com menos de 5 minutos de filme ele transa três vezes!), que ao ser demitido resolve partir para a indústria farmacêutica e em uma de suas idas a um consultório médico conhece uma paciente, Maggie, uma mulher alegre, expressiva que nada mais quer senão se aventurar e assim aproveitar a vida, e juntos, é claro, se relacionam sem compromisso algum senão sexo. Porém aos poucos a relação vai ganhando seriedade e é quando Jamie finalmente se convence que está apaixonado por Maggie, que sofre de Mal de Parkinson, se nega a aceitar a doença e esconde seus anseios e medos em relações sem compromisso algum, simples aventuras que a façam se esquecer de seus problemas que a cada dia se tornam mais agravantes. É quando as cenas de sexo são deixadas de lado, não há interesse em se fazer humor, o roteiro é aperfeiçoado e tudo aos poucos se torna melhor.
A muitos, a melhor qualidade do filme, que é a de alterar a maneira como a narrativa se inicia, pode ser algo extremamente ruim, afinal, aos que se agradam do roteiro inicial e a maneira como ele é levado (uma leve narrativa, sem compromisso algum com qualquer tipo de complexidade), o fato de ter de encarar uma mudança no foco da trama com certeza não agradará, pois estarão esperando apenas uma nova fraca comédia romântica com constantes cenas de sexo, ou seja, um filme ruim sem conteúdo algum que só se mantém por seu elenco, o que de fato O Amor e outras Drogas é até o início da segunda metade do filme, em que, reconstruindo e aperfeiçoamento os objetivos da narrativa, passa a dar a história a atenção necessária que o roteiro exige, o filme passa a ser levado a sério, deixa de ser apenas uma brincadeira entre grandes atores e passa a ser algo com conteúdo e bem feito.
Portanto, para que o resultado agrade, o filme deve ser encarado como um romance, uma história que, sem apelar a dramas extremos, consegue cativar o público e de fato mostrar um casal que emociona (até por que a fraca comédia que se tenta não funciona em cena alguma).
Quanto às constantes cenas de sexo não há uma explicação lógica do porquê existirem, afinal, sem elas o resultado final ainda assim poderia ser o mesmo e o filme não se banalizaria tanto entre o público que não há de encará-lo como uma narrativa carregada de complexos conceitos, quando pode apenas encará-lo como uma mera produção em que dois rostos bonitos encenam constantes cenas de sexo, dois atores carregados de potencial , mas que são subestimados pela banalidade da linha narrativa inicial que aos poucos se molda permitindo que ambos se sobressaiam e conduzam a história para que de fato alcance seus objetivos e se revele um roteiro bem escrito e cativante. É claro que o os dois ainda estão melhores juntos em Brokeback Mountain, quando a seriedade da trama ao longo de todo o filme permitia tal destaque, mas conseguir transformar uma narrativa a princípio banal e sem razão alguma em um romance que emociona e pelo qual todos torcem é a prova inegável de que estão à toda e hoje são um dos melhores.