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Dúvida


É cada vez mais difícil ver no cinema atual filmes que se mantenham por fortes diálogos e perfeitas atuações sem se ater de maneira alguma a constantes efeitos especiais que por vezes nada acrescentam à narrativa senão promover um péssimo “acréscimo” de entretenimento ao espectador. Dúvida, lançado em 2009 e dirigido por John Patrick Shanley é uma das melhores exceções à regra.

O longa, que se passa por volta de 1964 e é baseado em uma peça teatral escrita pelo mesmo diretor, narra os dias conturbados de um colégio católico em que a então professora irmã James (Amy Adams) passa a desconfiar das constantes relações do padre Flynn (Philip Seymour Hoffman) para com o único garoto negro do colégio Donald Muller, afinal, o que até então parecia ser uma simples relação de amizade parece aos poucos convergir em algo maior. Surpresa e desconfiada, irmã James resolve então falar com a reitora Aloysius Beauvier (personagem brilhantemente interpretada por Meryl Streep) que tentará de todas as maneiras encontrar e esclarecer a verdade: afinal, a relação padre e Donald Muller é apenas amizade ou então uma forte e íntima relação amorosa assim como podem sugerir as possíveis evidências?

Religião, moral e o poder de autoridade, tudo aqui é tratado de maneira a princípio cautelosa, mas que aos poucos toma proporções cada vez maiores e que por vezes convertem a narrativa em uma história sinuosa, polêmica e emocionante; e a razão para tanto concentra-se quase unicamente na habilidade de atuação de cada ator que constitui o elenco marcante de Dúvida.

Meryl Streep cuja atuação lhe rendeu diversas indicações, assim como as de Philip Hoffman e Amy Adams, faz na tela uma performance admirável que conduz a narrativa de maneira a proporcionar no espectador toda a emoção que o instiga cada vez mais no desejo de se conhecer o desfecho, assim como na capacidade de revelar todos os anseios e sentimentos de sua personagem, sejam estes de pesar, rancor, tristeza ou até mesmo raiva (vale destaque aqui a cena em que a irmã Aloysius, trancada em sua sala com Flynn, discute com o padre e intima-o, baseada em suas crenças, dizendo que há de expô-lo a todos, nem que para isso tenha de ir contra os dogmas da igreja. Admirável).

Um filme sem cenas de ações ou efeitos especiais, contudo uma narrativa, com diálogos e atuações que proporcionam a história um suspense e emoção que muitos tiros e explosões de Hollywood não fazem. Uma narrativa que cativa somente por sua temática e desenvolvimento.

Porém, o mais surpreendente de tudo aqui seja o desfecho e a moral que se obtém da história. Ao longo de todo o filme há a dúvida com relação ao padre Flynn e o garoto Donald, afinal, o relacionamento íntimo entre eles não é certo, por um lado há evidências, contudo, por outro há explicações condizentes para se acreditar piamente na idéia de que tudo não passa de um mal entendido. E é com essa questão que John Patrick Shanley surpreende a todos e faz do final de Dúvida um desfecho plausível e merecedor de 5 indicações. Um filme que deve ser visto.

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