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A Árvore da Vida



Não é possível dizer quando foi que tudo começou, o porquê, ou então quando foi que a espera por A Árvore da Vida tornou-se algo tão intenso. Talvez tenha sido simplesmente devido ao fato do filme ser dirigido por Terrence Malick, um diretor com filmes considerados brilhantes e admirado por muitos (não citarei minha opinião a respeito desses trabalhos anteriores, mas é certo que visto seu último trabalho, O Novo Mundo, não esperava por nenhuma outra "genialidade"). Contudo acredito que tal admiração pela crítica acontece aqui de maneira semelhante a que ocorre com M. Night Shyamalan, mas claro, com doses adicionais de exotismo de Terrence Malick.
Como diretor, Malick ostenta cinco filmes na carreira (a contar com seu último lançamento em questão), e o grande e verdadeiro sucesso foi seu primeiro trabalho: Terra de Ninguém, um grande roteiro, boas atuações e um visual diferente (e não estou me referindo a algo semelhante ao aspecto nostálgico de Tim Burton) que parecia surtir na tela um efeito mágico, o que tornava a produção algo até então inédito, de destaque e encantador. Contudo, apesar de todos os elogios e a avidez por parte da crítica em se ver um novo trabalho de alguém que muitos já consideravam um novo gênio do cinema, Terrence Malick demorou 12 anos para lançar seu segundo trabalho e este foi um daqueles filmes que somente a crítica "viu" suas qualidades tidas por exuberantes, um filme bom, contudo fraco se comparado a seu anterior, e algo que poderia ser facilmente feito por outro e não a "nova mente brilhante do cinema". E desde então foi assim, filmes lançados após longos intervalos de tempo com relação a seu antecessor e a cada anúncio de um lançamento, a esperança em se rever um filme como foi Terra de Ninguém.
E é claro, assim foi com A Árvore da Vida.
Bastaram as primeiras imagens que pareciam conter o fator mágico da produção pioneira de Malick e tudo se reascendeu e tudo pareceu se confirmar com o trailer da produção, que com cerca de 2 minutos já era capaz de emocionar: um visual que encanta, uma trilha sonora que emociona e junto a isso o tão esperado fator mágico : a capacidade em despertar o lado humano do espectador simplesmente através da visão e áudio, não a capacidade em se assistir e refletir sobre um filme, mas a capacidade de sentir um filme e se deixar levar por isso. Ou seja, apesar de muitos após assistirem A Árvore da Vida considerarem o trailer uma fraude, nada mais é se não uma amostra extremamente fiel ao que é o filme si, a diferença é que ninguém espera diálogos concretos em trailers assim também como uma linha narrativa que apresente sentido, já com relação aos filmes todos estão acostumado a verem o oposto, daí a razão pela qual A Árvore da Vida divide, em todas as vezes, o público que o assiste: os que ostentam a admiração e os que saem odiando a tudo e principalmente Terrence Malick (até mesmo em Cannes, após a primeira exibição do filme, metade da crítica aplaudiu em pé, enquanto a outra metade vaiou. Terrence Malick, que dentre suas esquisitices, não aparece em público, entrou na sessão somente após as luzes terem se apagado e saiu antes mesmo da sessão terminar).
Tendo no elenco Brad Pitt e Sean Penn, o filme se inicia com dois pais recebendo a notícia da morte de seu filho e com isso, claro, sofrimento (contudo a cena dura no máximo um minuto e ao final é provável que poucas pessoas se lembrem que foi dessa maneira que tudo começou). Jack O'Brien (Penn), o filho mais velho dentre os três do casal, recebe então a notícia acerca do acontecimento e junto ao conhecimento de tal ocorrência, assim como acontecem com todos que recebem noticias de tal instância, um filme de lembranças passa por sua mente, Jack é hoje um adulto perturbado, de certa maneira depressivo e triste e tudo apenas um reflexo de ideais e acontecimentos vividos na infância, e será através dele que conheceremos a história de sua família, suas conturbações, seus medos, anseios e alegrias, enfim, ficaremos a par daquilo que hoje o fez ser da maneira como é.
Porém não de maneira tão simples (afinal, a percepção do que possa ser a linha que conecta as primeiras imagens à história que se segue após elas custa a surgir em mente!), a narrativa, a partir de tal acontecimento inicial contará a história de toda a criação do universo até se chegar ao ponto desejado da história: a infância de Jack com seus pais e seus dois irmãos, e sim, no sentido literal da expressão: a expansão de galáxias, a formação dos planetas, os primeiros seres vivos, vulcões e até mesmo dinossauros, tudo em uma narrativa que dura cerca de meia hora e que, além do visual realmente impressionante e bonito, não possui áudio algum senão o próprio dos acontecimentos que se exibem em tela e da narração de Jack que ocorrem esporadicamente e soam como um desabafo, uma reflexão entre ele mesmo e Deus , contribuindo assim com mais um fato para a principal característica presente em A Árvore da Vida : a religiosidade.
Desde o título do filme, até mesmo à cena final, tudo é uma referência religiosa e à busca constante do homem pelas grandes questões da vida : Por que estamos aqui? Qual nosso papel no universo? Até que nível podemos interferir naquilo que nos cerca e afinal qual é o sentido da vida? E a citação inicial do Livro de Jó que “estampa” a primeira tela do filme está lá para que já de início se exprima a idéia que se estenderá ao longo de toda a produção e cuja concretização (que se converterá em uma moral) se dê no final de toda a história. E é na maneira como tudo transcorre que A Árvore da Vida passa a ser um filme cuja crítica, mesmo que não se queira, é ambígua e se divide a diferentes grupos de espectadores: para quem gosta de cinema, é um dos melhores, mas para os que gostam de filmes, é uma das coisas mais irritantes que já se produziu.
Quando se fala em cinema, deve-se levar em consideração a fotografia, a seqüência de cenas, a trilha sonora, a capacidade em se trabalhar e exprimir uma idéia e até mesmo o valor e importância de tal idéia, bem como a maneira diferencial com que ela será apresentada e isso o filme não deixa devendo em nada, é extremamente bonito e chamativo visualmente, a trilha sonora ecoa na mente durante todo o tempo mesmo quando não está ocorrendo e funciona exatamente como deve funcionar: algo que conduza o espectador de maneira imersiva na narrativa, contudo acredito que mesmo tendo todos os fatores que o façam ser um exemplar do cinema, um filme deve ser um filme e portanto, ter características de um filme e não apenas uma perfeita obra cinematográfica, ou seja, deve prender a atenção de quem assiste, deve ter seu começo, meio e fim, uma apresentação, um desenvolvimento, um ápice de acontecimentos e um bom final, mas de maneira, bem escrita, bem feita e direcionada para o público, não um público específico, mas para o público em geral e antes de tudo, mesmo que se esteja sub-entendida um filme deve apresentar uma idéia concreta, que realmente exista e não uma que existiu apenas na mente de quem o fez.
A Árvore da Vida peca em ser uma produção exclusiva para seu próprio diretor, tudo flui como uma grande pintura abstrata, é bonito, contudo depende de quem o vê, pode ser apenas imagens, uma história, apenas cores ou então uma simples dúvida do que se quis dizer com isso, se é que alguém realmente quis criar alguma forma concreta de expressão, afinal, toda moral que se possa obter aqui é apenas uma reflexão pessoal, o filme não apresenta claramente nenhum conceito e realmente não há como dizer se ele existe de maneira a se sub-entender ou se no anseio por obtermos algum sentido no que vemos, passamos a criar idéias que jamais se tentou realizá-las.
No geral é um daqueles que você refletirá por longas horas, tentando encontrar o sentido de tudo e talvez, no turbilhão de pensamentos, imagens, ideais e experiências de vida, tudo faça sentido, ou então talvez não e seja apenas um filme realmente chato.
Terrence Malick criou seu próprio filme e ao mesmo tempo faz com que cada um que o veja crie o seu. Se isso realmente foi planejado, então talvez seja algo de se admirar, ou então talvez não e tudo seja apenas um reflexo de nós mesmos, buscando em algo sem sentido algum, alguma explicação lógica que faça com que tudo tenha sentido, assim como a vida, e o possível objetivo de Terrence Malick, promover a moral de um filme apenas dias depois de se assisti-lo.

Piratas do Caribe - Navegando em Águas Misteriosas



Talvez em 2003, quando se lançou Piratas do Caribe – A Maldição do Pérola Negra, nem mesmo a Disney esperasse que a série alcançasse tanto prestígio e se convertesse em uma das franquias de maior sucesso de todos os tempos. Claro que a intenção de se criar o blockbuster do ano existia, afinal Jerry Bruckheimer fora chamado para a produção, contudo há plena certeza de que ninguém imaginava que um dos personagens mais caricatos e únicos do cinema estava prestes a surgir e se tornar um ídolo de toda uma geração e isso, graças a Bruckheimer, afinal, não fosse sua confiança em Johnny Depp, Jack Sparrow existiria, mas seria bem diferente do que é, a final, os executivos da produção simplesmente acharam ridículo e sem sentido algum o que viam na caracterização e atuação de Depp: um pirata com delineador nos olhos, bling e trejeitos que sugeriam tratar-se do primeiro bucaneiro explicitamente gay das histórias de aventura, o tipo “diferente” quase custou o emprego de Depp, não fosse Bruckheimer que, acreditando piamente no que Johnny Depp fazia, dava início a uma saga como nenhuma outra. E que claro, consagrou Depp como um dos melhores de sua geração.
Por essas razões, desde quando se anunciou um novo filme da saga, a expectativa já atingia níveis extremos, afinal, se por um lado muitos simplesmente queriam ver Jack Sparrow mais uma vez em cena, por outro lado havia a preocupação com a qualidade da história, o que seria do roteiro? De fato havia algo que valia a pena ser contado ou tudo não passava de uma questão financeira que, em uma atitude desesperada e estúpida se resolvera lançar um novo capítulo a uma saga que já se dava por encerrada? Contudo, bastou a exibição na Comic-Con 2010 em que “o próprio” Jack Sparrow anunciou como seria o novo filme e toda a dúvida aos poucos começou a se converter em uma feliz expectativa. Zumbis, sereias, Penélope Cruz e um Jack Sparrow ainda mais icônico, excêntrico, divertido do que nunca. A mais perfeita definição do quarto capítulo da história que, de maneira incrível, conseguiu superar seus sucessos anteriores.
Se toda a história sem sentido e demasiadamente fantasiosa do terceiro filme havia decepcionado àqueles que esperavam ver algo tão bom quanto havia sido o primeiro (já que O Baú da Morte, uma vez que se ateve unicamente aos efeitos especiais, no que se refere a um bom roteiro, foi algo que passou longe), o quarto filme deixa de lado o extremo fantasioso da história e com poucos efeitos (isso se comparado a seus anteriores) e uma narrativa simples (porém com a essência única da narrativa), se converte em um ótimo filme, com uma história que de fato vale o mérito de ser contada, algo tão bom, que, em quase suas duas horas e meia de exibição nem se sente a mínima falta de Orlando Bloom e Keira Knightley que juntos a Johnny Depp e Geoffrey Rush, formavam o elenco principal da trilogia até então, seus personagens eram mornos,não cativantes (de maneira alguma) e sempre que em cena apenas despertavam no público o anseio cada vez maior sem se saber o que aconteceria a Jack Sparrow que estava em uma nova enrascada quando a história se focou em William e Elizabeth e o público, claro, apesar de não se importar com os dois, se mantinha tenso, pois não estavam vendo na tela, mas Jack ainda estava em perigo e queriam saber seu desfecho. Além disso, os personagens em excesso às vezes confundiam e em nada contribuíam, a narrativa animava, cativava e divertia, mas o brilho mesmo era de Jack Sparrow e não seriam “50” personagens secundários que sustentariam uma narrativa, era preciso alguém à altura, que verdadeiramente cativasse o público. E Penélope Cruz surpreendeu.
Não só adentrando perfeitamente na “atmosfera” fantasiosa e aventureira de Piratas do Caribe como se sempre estivera ali, Penélope Cruz cativa, faz valer sua participação na história e como nenhum dos outros personagens até então, não se torna uma mera figurante ao lado de Johnny Depp e sim uma personagem necessária à trama e que não se deixa ofuscar à atuação magistral que Depp dá a Jack Sparrow.
No que poderia ser apenas mais uma atuação do mesmo personagem que já fora visto em três filmes, Johnny Depp inova e leva a extremos as principais características de Jack Sparrow, seja na fala, nas expressões, nos trejeitos ou simplesmente na maneira única de ser e agir, rouba a cena, domina toda a situação e leva todo o público ao delírio, público que apesar de conhecer Jack há uma trilogia, percebe já nos primeiros minutos que está prestes a ser surpreendido a cada cena (e realmente está).
Um alívio aos que temiam por Depp que há três filmes apenas decepcionava e parecia ter perdido sua maneira única de atuar, e alívio também aos que temiam pela qualidade de toda uma saga.
Parece que tanto Johnny Depp quanto Piratas do Caribe resolveram seguir a doutrina de Jack Sparrow: surpreender a todos e se mostrar ainda melhor e divertido.

127 Horas


São três características que fazem um filme: o roteiro, as atuações e a maneira como a narrativa é conduzida, ou seja, o foco que se dá na maneira como a trama é desenvolvia. É claro que, em se tratando de cinema, há fotografia, trilha sonora, figurino e outros fatores que sim, contribuem para o resultado final de uma produção, mas que na maioria das vezes não são nem mesmo reconhecidos pelo grande público, sendo agraciados apenas em grandes premiações. Ao fim de um bom filme o que fica é a história feita por um roteiro convincente e atuações memoráveis que contribuem ainda mais no desenvolvimento surpreendente e cativante da narrativa, assim como o novo filme de Danny Boyle, 127 Horas, que em minha opinião, é de longe, o melhor filme dos indicados ao Oscar 2011.

Característica recente ou só uma feliz coincidência, a maneira de Danny Boyle trabalhar perfeitamente seus personagens e conduzir a trama a níveis cada vez mais altos, começou no perfeito Quem Quer Ser um Milionário, uma adaptação de um livro desconhecido por quase todos, que unicamente por sua história, aos poucos ganhou o reconhecimento de toda a crítica e se tornou o melhor filme do ano (o que de fato foi), sem uma produção hollywoodiana e nem mesmo atores famosos, mas com a capacidade única, como há muito tempo não se via, de cativar o público e fazer de um roteiro simples um clássico do cinema contemporâneo. É o que a acontece em 127 horas, adaptação do livro Between a Rock and a Hard Place, cuja única diferença é ter no elenco o rosto conhecido de James Franco, porém, com uma atuação impressionante e memorável que era desconhecida por todos.

A trama conta a história de Aron Ralston, um jovem montanhista que em uma de suas aventuras carregadas pelo anseio em se desbravar e aproveitar da paisagem dos cânions em Utah se vê em uma complica situação quando, sozinho, sem qualquer contato, sofre um acidente em que uma pedra solta cai sobre seu braço e o deixa preso entre uma das diversas fendas do local. É quando Aron passa a lutar pela própria sobrevivência, refletir sobre sua vida e tentar não desistir ou enlouquecer em uma situação onde cada segundo conta, e claro, prender a atenção do espectador durante todo o tempo.

É fato que não é um filme para todos, afinal muitos não acreditam que um filme com um único ator possa ser algo que merece ser visto ( como se um grande elenco significasse um bom filme), porém é justamente neste fator que se encontra o principal desafio de 127 Horas, afinal, prender a atenção do público, com um único ator, em uma narrativa cujo cenário é na maior parte do tempo uma fenda e ainda assim conseguir se mostrar um dos melhores, todo o mérito a direção, mas antes de tudo a James Franco, que consegue surpreender a todo momento.

Até então conhecido pela maioria por seu trabalho em Homem-Aranha (completamente morno e sem destaque algum), a principal qualidade de James Franco em 127 Horas é a de promover a empatia no público ao se mostrar um indivíduo normal como qualquer outro, não há exageros nem superficialidade, ele simplesmente age de acordo com o que a situação exige e que aos poucos vai se tornando pior devido aos fatores físicos e psicológicos da trama, sabendo levar a narrativa desde a um humor que alivia o clima da situação a uma profunda reflexão sobre suas dúvidas, anseios e atitudes até então (realmente memorável), destaque a cena do talk show, o ápice da atuação de James Franco, que de uma cena que poderia ser simplesmente ridícula a trama, faz dela a melhor cena do ano e faz de si uma das maiores surpresas do cinema e uma promessa como nenhuma outra ( e não nenhum exagero em se dizer isto).

É como uma minuciosa obra de arte, tudo aqui é trabalhado de maneira perfeita a se obter os objetivos da trama e promover a reflexão sugerida pela história sem qualquer esforço e nem mesmo uma atmosfera terrivelmente carregada, desde a as primeiras cenas a trilha sonora de A.R. Rahman que mesmo quando ausente parece ecoar na mente e carregar o espectador junto à narrativa.

Uma das piores futuras decepções do cinema, é certo que 127 Horas não levará o prêmio de Melhor Filme da Academia, simplesmente porque não premiam os melhores, mas os melhores que lhe convém (seja por política, dinheiro ou o simples status de alguns), mas claro, exceções existem e seria um extremo prazer ver o maior merecedor do prêmio ser reconhecido, assim como James Franco que sem dúvida alguma é o melhor de todos e seria a maior decepção vê-lo perder o prêmio para o morno Colin Firth em o Discurso do Rei (que também tem seus méritos, contudo mínimos, se comparados ao que se tem aqui).

Mas há tempos, o Oscar deixou de ser um fator decisivo em se apontar bons filmes e sua premiação nem sempre corresponde às verdadeiras expectativas. 127 horas pode não levar nada, mas ainda assim é o que é e é o melhor e se você for ver apenas um filme dos indicados, que seja ele. 127 Horas, melhor filme? Eu já estou chamando de obra-prima.


O Amor e Outras Drogas


Se há um gênero que definitivamente não funciona é a comédia romântica, afinal não só depreciar a imagem de um ator em um roteiro leve, mal escrito e por vezes sem lógica alguma, não há nem romance nem comédia, não há de fato uma relação amorosa que seja reconhecida pelo público e muito menos alguma graça que faça todos darem verdadeiras e boas risadas, o maior exemplo acontece com Jennifer Aniston, uma grande atriz, com todas suas características que a tornam única na maneira de atuar, mas que, insistindo nas comédias românticas, há tempos não se destaca e se tornou apenas uma mera atriz do gênero, inibindo todo seu potencial que mostrou ao longo de dez anos em Friends. Comédia romântica, salvo o único e memorável 500 Dias Com Ela (e todo mérito a Marc Webb e a Joseph Gordon-levitt), é um gênero sempre mal feito que implica em algo morno, banal e que em nada contribui. Ou é romance ou é comédia, é melhor não se aventurar na misturas de gênero.

Chega então O Amor e Outras Drogas, uma produção que se intitula “comédia-dramática”, que tinha tudo para cair na mesmice dos demais filmes do gênero, mas resolveu se mostrar diferente: começar de maneira leve e gradativamente transformar o roteiro, lhe dar o aspecto sério que uma boa narrativa exige e ao fim, revelar uma ótima história, mas que infelizmente pode perder sua credibilidade devido a sua comprometedora maneira em enfatizar e expor o sexo.

O filme, com Jake Gyllenhaal e Anne Hathaway, se divide em duas parte: a primeira (morna, aparentando ser algo sem conteúdo e banal), narra os dias de Jamie Randall, um mulherengo vendedor de eletrônicos, que tem toda e qualquer mulher que deseja (acredite, com menos de 5 minutos de filme ele transa três vezes!), que ao ser demitido resolve partir para a indústria farmacêutica e em uma de suas idas a um consultório médico conhece uma paciente, Maggie, uma mulher alegre, expressiva que nada mais quer senão se aventurar e assim aproveitar a vida, e juntos, é claro, se relacionam sem compromisso algum senão sexo. Porém aos poucos a relação vai ganhando seriedade e é quando Jamie finalmente se convence que está apaixonado por Maggie, que sofre de Mal de Parkinson, se nega a aceitar a doença e esconde seus anseios e medos em relações sem compromisso algum, simples aventuras que a façam se esquecer de seus problemas que a cada dia se tornam mais agravantes. É quando as cenas de sexo são deixadas de lado, não há interesse em se fazer humor, o roteiro é aperfeiçoado e tudo aos poucos se torna melhor.

A muitos, a melhor qualidade do filme, que é a de alterar a maneira como a narrativa se inicia, pode ser algo extremamente ruim, afinal, aos que se agradam do roteiro inicial e a maneira como ele é levado (uma leve narrativa, sem compromisso algum com qualquer tipo de complexidade), o fato de ter de encarar uma mudança no foco da trama com certeza não agradará, pois estarão esperando apenas uma nova fraca comédia romântica com constantes cenas de sexo, ou seja, um filme ruim sem conteúdo algum que só se mantém por seu elenco, o que de fato O Amor e outras Drogas é até o início da segunda metade do filme, em que, reconstruindo e aperfeiçoamento os objetivos da narrativa, passa a dar a história a atenção necessária que o roteiro exige, o filme passa a ser levado a sério, deixa de ser apenas uma brincadeira entre grandes atores e passa a ser algo com conteúdo e bem feito.

Portanto, para que o resultado agrade, o filme deve ser encarado como um romance, uma história que, sem apelar a dramas extremos, consegue cativar o público e de fato mostrar um casal que emociona (até por que a fraca comédia que se tenta não funciona em cena alguma).

Quanto às constantes cenas de sexo não há uma explicação lógica do porquê existirem, afinal, sem elas o resultado final ainda assim poderia ser o mesmo e o filme não se banalizaria tanto entre o público que não há de encará-lo como uma narrativa carregada de complexos conceitos, quando pode apenas encará-lo como uma mera produção em que dois rostos bonitos encenam constantes cenas de sexo, dois atores carregados de potencial , mas que são subestimados pela banalidade da linha narrativa inicial que aos poucos se molda permitindo que ambos se sobressaiam e conduzam a história para que de fato alcance seus objetivos e se revele um roteiro bem escrito e cativante. É claro que o os dois ainda estão melhores juntos em Brokeback Mountain, quando a seriedade da trama ao longo de todo o filme permitia tal destaque, mas conseguir transformar uma narrativa a princípio banal e sem razão alguma em um romance que emociona e pelo qual todos torcem é a prova inegável de que estão à toda e hoje são um dos melhores.

 
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