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Um Olhar do Paraíso


Existem temáticas que constantemente são retratadas no cinema e que quase sempre dão o que falar, como o fim do mundo, amores impossíveis, homossexualismo e a vida após a morte, e é de se presumir, de acordo com o assunto do momento em Hollywood, quais os diretores e atores que possivelmente iriam aderir ao movimento. Porém, dificilmente alguém arriscaria dizer que um diretor cuja cinegrafia inclui sucesso como O Senhor dos Anéis e King Kong poderia tratar de vida após a morte, sofrimento, amor, e antes de tudo, emoção.

Um Olhar do Paraíso, dirigido por Peter Jackson, conta a história de Susie Salmon uma garota de 14 anos que após ser violentada sexualmente e assassinada se encontra em um local tido por uma espécie de intermédio entre a Terra e o Paraíso de onde vê todo o sofrimento vivido por sua família após sua morte e as conturbadas e graduais tentativas de se restabelecer uma rotina; condições atuais em que seu pai (na trama, Mark Wahlberg) anseia cada vez mais por vingança, e sua mãe luta para conseguir se restabelecer emocionalmente.

The Lovely Bones (título original da narrativa baseada no livro Uma Vida Interrompida, de Alice Sebold) foi um dos lançamentos mais aguardado de 2010 e tido por muitos como um dos quais que receberia mais indicações da Academia, fato este que não aconteceu, afinal, a produção que leva nomes como os de Susan Sarandon e Rachel Weisz, quase nada provocou (além decepção) senão o uma avalanche de críticas. E não é pra menos.

Atuações marcantes, efeitos especiais (apesar de muitos considerarem exacerbados) dignos de admiração, afinal, diferente de outros, tudo na tela contribui ainda mais para toda a linha narrativa da produção, contudo, é na história e edição que o filme provoca sérias contradições.

Primeiro, porque se trata de um assunto polêmico, que mexe com as crenças de cada um (ainda que de maneira alguma seja esse o foco de Peter Jackson), mas devido como as coisas se dão na tela tal fato é rapidamente contornado, porém o problema maior está nas linhas narrativas que se seguem na história: uma (a melhor) que se passa na Terra, onde o foco é a família Salmon e seus dias após a morte de Susie, e outro (por vezes monótono) que nada mais é senão a visão da própria garota com relação a sua família e as escolhas que deve agora tomar, afinal, para se chegar ao Paraíso, além de uma caminhada é necessário deixar tudo para trás; uma difícil ação para Susie. Por vezes a narrativa é dramática, emociona, por outras provoca suspense, tensão e até mesmo sustos, mas o mais difícil mesmo aqui é conciliar essas emoções com ambas as linhas narrativas, o que por vezes promove no espectador o desejo de que a garota se torne um plano secundário e as ações de sua família sejam de vez o foco principal a ser seguido.

Um bom filme, não um entretenimento para toda a família, mas sem dúvida um filme para se refletir acerca da felicidade e a razão de viver, afinal, apesar de se falar em morte, trata-se aqui de vida. Poderia ser melhor, com certeza sim, se não fosse o “bola fora” das últimas cenas que quase desestabilizam toda a opinião da história que se tem até então (simplesmente ridículo), mas um trabalho bom que de maneira alguma foi injustiçado pelo Oscar, até mesmo por que se alguém aqui tem destaque esse alguém é Stanley Tucci que vive o assassino da trama (uma atuação que beira o memorável), e ele teve sua merecida indicação.

Um trabalho polêmico e ainda assim emocionante, mas que ao invés de se destacar por seus feitos, foi marcado, não sem razão, por suas contradições.

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