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O Leitor


A Segunda Guerra Mundial já foi e ainda é tema constante no cinema, grandes produções que retrataram sangrentas batalhas ou então todo o sofrimento sofrido por judeus e demais povos que foram perseguidos durante o holocausto são freqüentemente lançadas e muita das vezes de maneira brilhante e surpreendente. A Lista de Schindler, A Conquista da Honra e O Resgate do Soldado Ryan são alguns dos exemplos que se encaixam perfeitamente nessa definição.

O Leitor, dirigido por Stephen Daldry e baseado no livro homônimo do escritor alemão Bernhard Schlink lançado em 1995, tem como cenário a segunda guerra, a crueldade nazista de certa maneira conduz a narrativa ao seu desfecho, contudo aqui tudo é levado em segundo plano, a história, revelada em flashbacks, se passa por vezes na década de 40, porém quase nem se fala de guerra, sofrimento ou dia-a-dia de soldados; não há clichês, portanto, apesar da guerra existir não se fala nela, até mesmo porque não é esse o foco de O Leitor, um filme tenso, reflexivo, emocionante e merecidamente premiado.

No longa, Michael Berg, um garoto alemão de 15 anos, conhece Hanna Schmitz, uma mulher 20 anos mais velha (de certa maneira rude e misteriosa com relação a si própria) com a qual desenvolve sérias relações amorosas. O romance então é abruptamente interrompido com o desaparecimento de Hanna, que sem revelar seu paradeiro faz com que Michael volte a sua vida monótona e pesarosa que levava ante de conhecê-la.

Anos mais tarde ele, agora estudante de Direito, assiste a um julgamento de oficiais nazistas que trabalharam durante a guerra na concentração Auschwitz em que, seguindo ordens, promoveram o mal contra centenas de pessoas. Entre os réus está Hanna Schmitz.

É então que O Leitor vai aos poucos se tornando um filme cada vez mais tenso e emocionante, afinal, Hanna jamais contou acerca de seu passado a Michael, e ele tem agora um segredo capaz de absolvê-la, contudo o medo de expor seu relacionamento com uma nazista em um cenário pós-guerra onde tal prática é condenável o constrange e ao mesmo tempo o perturba.

Aqui, tudo o que se vê na tela é mostrado de maneira sinuosa e expressiva, o que contribui ainda mais com o desfecho da narrativa que, apesar de ser esperado, ainda assim prende a atenção do telespectador.

Contudo, acredito que um dos destaques de O Leitor sejam as constantes cenas de sexo que compõem os primeiros 30 minutos da história, em que, apesar de “fortes”, de maneira alguma se apresentam vulgar; ao contrário, são cenas tensas, que promovem ainda mais a atmosfera de mistério e perturbação na narrativa; e tudo graças principalmente a atuação brilhante de Kate Winslet que faz na tela o que muitos atores e atrizes não fazem ou jamais farão em suas atuações: encenar o sexo de maneira que não se perca a linhagem da narrativa e acabe por transformar a cena em algo vulgar e à parte na história. Portanto, se alguém questiona o mais que merecedor Oscar de Kate Winslet em 2009 por melhor atriz vale levar tais fatos em consideração.

Porém O Leitor não é feito só de sexo, é um filme movido por sua digna história, por suas emoções retratadas, enfim, um trabalho humano e comovente. Um filme merecedor de prêmios e de ser visto.

Guerra ao Terror

Há filmes que simplesmente passam a ser elogiados pela crítica. Não se sabe a origem, não se conhece diretor, não há divulgação de atuações e muita das vezes nem mesmo divulgação de sua estréia; do nada, aparecem na mídia e passam a ser tidos por obras-primas; por vezes realmente dignos de tal título, por outras, puro resultado de um conceito exagerado. Assim como as opiniões que cercam Guerra ao Terror.

O filme no Brasil foi lançado em DVD em meados de dezembro sem nem mesmo ter passado pelas salas de cinema devido a decisões da distribuidora baseadas na idéia de que a narrativa não traria lá muitos lucros, porém, depois de 2 indicações ao Globo de Ouro e prováveis indicações ao Oscar os conceitos mudaram e decidiu-se que Guerra ao Terror estreará nos cinemas em fevereiro de 2010. Até então um direito dignamente conquistado, é um filme que no mínimo deve ter sua estréia nas telonas, contudo as indicações necessárias para tal feito não são de modo algum dignas ou condizentes com o que se irá ver nos cinemas.

Dirigido por Kathryn Bigelow, de O Peso da Água e K19 – The Windowmaker, filmes desconhecidos por quase todos e não merecedores do contrário, The Hurt Locker (título original de Guerra ao Terror) conta a história de um grupo de soldados americanos enviados ao Iraque cujo objetivo é identificar e desarmar bombas onde quer que estejam. Definição simples, roteiro simples, contudo o diferencial está na maneira como tudo se desenvolve; a tensão e o suspense que se transmite na tela beira quase a perfeição, assim como o relacionamento dos soldados durante a execução de sua missão em que se revelam conflitos, medo, rebeldia e dor; soldados esses cujo foco principal da narrativa é formado por Jeremy Renner, de SWAT, Anthony Mackie e Brian Geraghty.

Guerra ao Terror é um bom filme, um dos melhores de 2009, afinal a guerra no Iraque apesar de ser um tema constante na mídia atual, é mostrada aqui de maneira até então desconhecida, onde toda a tensão que cerca o território iraquiano enfim é sentida por aqueles que a vêem. Tudo graças à direção de Kathryn e a atuação do elenco que, apesar de ser quase todo desconhecido do grande público, faz na tela aquilo que rostos famosos vêm constantemente se esquecendo de fazer.

Contudo os elogios à Guerra ao Terror acabam aqui, é apenas um filme bom e não uma obra-prima maravilhosa como muitos estão dizendo; certamente é um filme que leva sua temática a sério e corretamente, porém não será de maneira alguma o melhor no gênero, afinal depois de seu exagerado sucesso o Iraque há de ser lembrado mais vezes por Hollywood, e com certeza serão trabalhos aperfeiçoados que, diferente de Guerra ao Terror, não terão falhas irreparáveis como um roteiro por vezes cansativo, uma linhagem incerta ou uma mensagem oculta em seu desfecho que o torna um filme genuinamente baseado nos conceitos políticos americanos.

Talvez Guerra ao Terror fosse ainda melhor se toda essa aclamação exacerbada não existisse, seria um trabalho que não criaria expectativas, portanto, o que se veria nas telas não seria pré-conceituado como um filme maravilhoso e não haveria a obrigação de agradar a todos, ainda que seria classificado como um bom filme, o que de fato é, e não uma obra-prima do cinema atual.

Uma produção, apesar de sérias falhas, para ser admirada, mas de maneira alguma premiada.

Gran Torino



Difícil falar do trabalho de um dos diretores mais consagrados do cinema, um homem que hoje já na faixa dos 70 anos de idade e que lança dois filmes ao ano e, além disso, todos maravilhosos e dignos de premiações.

Cartas de Iwo Jima, A Conquista da Honra e Menina de Ouro são alguns dos exemplos da imensa capacidade e talento de Clint Eastwood, um diretor que faz sucesso em suas produções somente pela história e atuação, e diferente de outros, Eastwood jamais dá importância a efeitos visuais, contudo tem o dom de fazer de histórias simples, narrativas que promovem reflexão e que permanecem por anos a fio em nossas mentes, talvez não sucesso de bilheteria, mas histórias que nos marcam para sempre.

Como se não bastasse tanto talento, Clint Eastwood ainda atua, e faz na tela atuações perfeitas e memoráveis que o classificam como um dos melhores atores atualmente (como diretor, em minha opinião, é o melhor).

Em 2009 então, depois do emocionante A Troca, lança-se Gran Torino, um filme atuado e dirigido por Clint Eastwood, e consequentemente, uma obra-prima de se encher os olhos e uma história com essência que infelizmente outros diretores vêm se esquecendo de acrescentar em suas produções.

A narrativa tem foco em Walt Kowalski, um ex-combatente da Guerra da Coréia que após a morte de sua esposa se torna ainda mais rabugento e inconformado com o mundo atual e as pessoas que o cercam. Seus filhos, ambos casados, não se importam de maneira alguma consigo, além disso, a relação que tem com eles não passa de simples e ríspidos diálogos, assim como para seus netos. Ele é um homem crítico, solitário, rude e infeliz.

Contudo, depois de tensos e conturbados momentos, Walt passa a se relacionar, a princípio de maneira cautelosa, com sua nova vizinhança que, devido a ser quase toda oriental, mantinha sérios preconceitos com relação a ela. Ele então, sem perceber, começa a desenvolver sérios laços de amizade, sobretudo com Sue e Thao, um garoto introspectivo e solitário com o qual Walt terá a oportunidade de fazer aquilo que jamais fez como pai e enfim consertar o passado que tanto o atormenta.

Aqui, tudo que se desenvolve na tela se torna emocionante e ao mesmo tempo surpreendente, é impossível não se admirar com a amizade que se trava entre os personagens e além de tudo com a atuação de Clint Eastwood na pele do veterano Walt Kowalski, o velho que apesar de rabugento e ríspido cativa a todo o público ao longo da narrativa.

É um filme baseado na emoção, no calor humano, afinal aqui não há técnicas visuais deslumbrantes, nem um elenco famoso e nem mesmo um produção inatingível, porém tem história, desenvolvimento e um desfecho simplesmente maravilhoso e marcante.

Gran Torino é emotivo, trata de valores humanos, mas graças a Eastwood de maneira alguma é uma narrativa pesarosa e cansativa. É uma lição de vida e antes de tudo um exemplo de um ótimo filme.

Avatar



Em 1995, James Cameron teve a brilhante idéia de contar a história dos Ná’vi, seres azuis, fortes e ágeis que habitam um planeta chamado Pandora; a narrativa então teria início com a invasão dos humanos no território em que, em busca por pedras preciosas somente existentes naquele local, estariam dispostos a tudo em busca do sucesso na missão. História simples, contudo Cameron queria um diferencial, queria que os recursos visuais fossem explorados ao máximo, queria uma tecnologia cinematográfica até então inexistente. O diretor então engavetou o projeto e resolveu fazer Titanic, que se tornou o filme mais visto em todo o mundo e uma obra-prima como nunca haverá igual.

Depois de 12 anos sem lançar trabalho algum, em 2009, o ambicioso James Cameron lança Avatar, a história que permaneceu na gaveta por uma década e depois de quatro anos de produção chega aos cinemas de todo o mundo, alcançando já em sua terceira semana de exibição o posto de segunda maior bilheteria da história do cinema (é, a primeira também é de Cameron), e com Avatar, o diretor traz também a nova experiência visual às telas, o delírio provocado por imagens que desde 1995 procurava alcançar.

A história realmente deixa a desejar, James Cameron poderia ter tirado muito mais proveito de toda a narrativa, afinal, há determinados trechos em que se chega aparecer que a história foi simplesmente esboçada e o próprio esboço foi o material utilizado, um trabalho em que tudo deveria ser aperfeiçoado.

Porém, parece ao se ver na tela, que Cameron pouco se importava com isso, com o desenvolvimento de toda a narrativa de maneira geral, aliás, os diálogos são ridículos e as mensagens ecológicas que poucas vezes se tenta passar quase nem são percebidas. Alguém, por sinal, notou?

É claro que Avatar não é nem metade do que Titanic representou ou representa na história do cinema e se ambos comparados nota-se que a supremacia de Titanic é inigualável, porém ao se avaliar Avatar deve-se levar em consideração que James Cameron buscava um diferencial visual, ansiava por uma revolução tecnológica na sétima arte, e o resultado de tudo nos leva a ver que alcançou plenamente seus objetivos.

Ao assistir Avatar nota-se que é um filme feito com uma técnica e produção que nunca antes existiram em filme algum, é verdadeiramente um trabalho que proporciona aos olhos um completo delírio, é visual seguido por visual e cada um mais impressionante que o outro. Além disso, Cameron finalmente faz o que já se começava a acreditar que diretor algum faria: utilizar, enfim, a técnica 3D com maturidade, sem se ater àqueles objetos que ficam a todo o tempo sendo lançados no telespectador (“efeitos” ridículos que infelizmente insistiam em manter em filmes 3D).

É um trabalho ambicioso, feito com técnica e produção inatingível, mas que não emociona e que não apresenta valor humano algum, aliás, os humanos aqui são tidos como os verdadeiros monstros de toda a situação e os Na’vi (os “alienígenas”), os verdadeiros seres de coração (quanto clichê!).

Portanto, Avatar é sim um bom entretenimento e um marco no cinema, pois todo o seu visual representa aqui o início da utilização de tecnologias que com certeza hão de ser copiadas por outras produções, contudo não é um filme humano. Digno de prêmios? Sim, mas incontestavelmente não o de melhor filme, afinal, uma obra-prima não é feita só de técnicas visuais, mas também de uma ótima narrativa, e nesse quesito, Avatar passa longe.

 
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