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O Mundo Imaginário do Doutor Parnassus


Sem dúvida alguma, um dos atores mais promissores na história do cinema foi Heath Ledger. Com apenas 28 anos, Ledger fez nas telas performances que não só foram premiadas, mas que se tornaram inesquecíveis, únicas e que de maneira alguma ficariam tão boas na interpretação de outro ator, como Ennis Del Mar, de Brokeback Mountain e o inigualável coringa de O Cavaleiro das Trevas, um jovem e talentoso ator que com certeza, era um dos melhores de sua geração, mas que infelizmente, devido a uma overdose de medicamentos prescritos, veio a falecer no dia 22 de janeiro de 2008.

À época, Ledger filmava O Imaginário Mundo do Doutor Parnassus, de Terry Gillian, de Os Doze Macacos e com quem já havia trabalhado em Os Irmãos Grimm, e com apenas um terço das cenas filmadas, após o incidente a produção teve de ser interrompida até que se decidisse o que fazer com relação ao roteiro; decisão esta que fez com que tudo retomasse seu rumo em março do mesmo ano.

A narrativa que se passa na atual Londres, gira em torno da companhia teatral Imaginarium, liderada por Parnassus e com apenas outros três membros. Parnassus (Christopher Plummer) possui um obscuro passado em que, devido a um pacto com o diabo, se tornou imortal e obteve o dom de inspirar a imaginação nas pessoas e fazer com que transcendam a realidade e entrem em um universo sem limites, entretanto, para isso é necessário que se atravesse o místico espelho que ornamenta o palco de suas apresentações. Nick (o próprio diabo), claro, está agora de volta para cobrar tal pacto e em troca quer Valentina, a única filha de Parnassus que completará 16 anos em três dias, e como proposta então, surge um novo acordo: ao invés de Valentina, Parnassus deve conseguir 5 almas à Nick antes do aniversário da filha. É quando ele se depara com Tony Shepherd (Ledger), um vigarista com sérios problemas com a máfia russa, espertalhão e trambiqueiro, que está disposto a ajudá-lo em sua tarefa.

Na teoria, o roteiro soa interessante: armações, apostas e ate mesmo uma corrida contra o tempo, contudo na prática, Gilliam exagera em quase tudo e faz de uma narrativa, uma mera conseqüência dos constantes efeitos que insistem ao longo de todo o filme mesmo quando tudo poderia se mais ameno. Assim é no universo do espelho, um lugar em que tudo parece ter sido criado por um artista surrealista, ambiente que, devido ao foco de Gillian, chega por vezes a ser a te mesmo apelativo; um mundo que ao ser atravessado inspira a imaginação de todos que nele adentram e faz com que Tony mude de aparência e se torne um “anônimo” no mundo imaginário: a solução de Terry Gillian com relação a Ledger, cujo personagem é interpretado por quatro diferentes atores que fazem de Tony Shepherd o grande mérito de O Mundo Imaginário do Doutor Parnassus.

Johnny Depp (que com menos de 3 minutos ainda assim é o melhor e mais divertido dos substitutos), Jude Law e Colin Farrell mostram na tela um desejo e determinação com seu personagem que de tão bem interpretado, mostram de fato a verdadeira identidade de Tony na trama, ou seja, embora o roteiro tenha sido adaptado e as substituições tenham sido necessárias, nada é imposto na tela e de maneira alguma demonstra ser algo forçado, pelo contrário, tudo parece verdadeiramente ter sido planejado desde o início: 4 atores e um único personagem carismático melhor que o próprio filme.

Uma produção que por seu roteiro poderia ser algo melhor, mas devido a exageros e ao não compromisso de Gillian com um filme plausível ao que se esperava, é somente uma enxurrada de efeitos não tão convincentes e que em nada acrescentam.

Um filme que deve ser visto não pela produção em si, claro, mas pela oportunidade de se ver um dos mais talentosos e promissores atores que já existiu, um ator que mesmo em um filme ruim ainda assim é perfeito em sua atuação e faz de seu personagem um ícone das telas. Uma produção que deve ser admirada não pelo que de fato é, mas pela chance de se ver Heath Ledger em cena, infelizmente, pela última vez.

Querido John


Romance, apesar de dividir opiniões, certamente é um dos gêneros que de uma maneira ou outra sempre conquista um determinado público, seja o filme falho ou não, bom ou ruim, é certo que quando há um amor impossível sendo retratado na tela os detalhes técnicos são na maior parte das vezes esquecidos pela maioria dos espectadores e a temática emotiva, claro, se torna o único foco de atenção. Assim foi com Desejo e Reparação, Antes que o Dia Termine e Amor Sem Fronteiras, filmes que, críticas à parte, conquistaram legiões de admiradores.

Seguindo o gênero chega agora Querido John, longa dirigido por Lasse Hellström, de Regras da Vida e Sempre ao Seu Lado, baseado no livro homônimo de Nicholas Sparks, autor de outros diversos romances que também ganharam suas versões cinematográficas como Diário de Uma Paixão e Um Amor pra Recordar. O filme conta a história de John Tyree e Savannah Curtis, dois jovens que ao acaso se conhecem em uma praia e em pouquíssimo tempo o que se inicia como uma amizade se transforma em um sério relacionamento amoroso que aos poucos se torna algo cada vez mais complexo. Contudo John é um soldado das Forças Especiais do Exército dos Estados Unidos que depois de duas semanas é obrigado à novamente atuar em território estrangeiro, o que faz com que o único meio de contato entre ambos se dê através de cartas.

Apesar do roteiro um tanto quanto comum e diversos clichês na temática central da trama, Querido John tem um plano de fundo que eleva um filme que poderia ser tipicamente adolescente a um nível de amadurecimento necessário aos objetivos finais da produção, plano este que se concentra inicialmente no pai de John, um sujeito autista e acometido por alguns transtornos compulsivos que criou o filho sozinho após ser abandonado pela esposa, e claro, tem com ele sérios problemas de relacionamento.

Interpretado por Richard Jenkins, indicado ao Oscar de Melhor Ator por O Visitante, o pai de John é a exceção do grave problema de Querido John, que faz de uma produção que poderia ser inesquecível, mais um mero romance no cinema: péssimas interpretações e um elenco nada convincente.

John, interpretado por Channing Tatum, de G. I. Joe e Ela Dança, Eu Danço, exceto nos momentos ao lado do pai (segundo plano) não possui expressão alguma: feliz,triste ou bravo, ele simplesmente reduz sua atuação à fala, deixando o inefável completamente de lado, assim como Amanda Seyfried, como Savannah, que em nada contribui senão em uma típica cara de choro ao longo de toda a narrativa. E embora alguns afirmem que os clichês de Querido John são as razões de suas falhas, acredito que as atuações são, sem dúvida, as responsáveis por todo o rebaixamento que infelizmente acomete toda a trama. Melhores atores, ninguém se importaria com o clichê e tudo seria melhor, assim como as cenas de Richard Jenkins, que de tão boas mereciam o primeiro plano da narrativa, afinal, é através de seu personagem e de sua triste relação com seu filho, que Querido John alcança de fato seus objetivos com relação ao espectador.

Um filme que há de agradar ao público feminino, mas que de maneira alguma merece ser visto pelo seu desastroso romance retratado e sim pelo seu cativante plano de fundo que devido a suas complexas qualidades, consegue se sobressair em um filme cuja narrativa central infelizmente deixa a desejar.

Homem de Ferro 2


Super-herói é definitivamente um dos temas que insistem em se levar às telas, claro que isso não é de agora, heróis e vilões sempre estiveram no cinema, contudo foi mesmo depois de Sam Raimi com seu Homem Aranha que realmente tudo se ampliou, a Marvel e a DC ganharam seu espaço e filmes de super-heróis ganharam a atenção do público, das bilheterias e antes de tudo, da crítica.

O que antes se resumia unicamente em explosões, lutas e um final feliz, hoje consiste, de maneira imprescindível, em um bom roteiro, boas atuações, uma narrativa convincente e claro, um diferencial que o promova na linha de filmes do mesmo gênero, tornando-se assim uma produção bem feita, única e admirável. E é devido a esses quesitos cada vez mais rígidos que filmes de heróis deixaram de ser voltados unicamente aos fãs de quadrinhos e passaram a visar todo o público. Um bom filme, boas críticas e uma bilheteria rentável: os objetivos de toda produção cinematográfica.

Quando Homem de Ferro foi lançado em 2008, a expectativa era pouca, muitos nem ao menos conheciam o personagem, a produção não era lá grande coisa e Robert Downey Jr., renascendo das cinzas, era um ator fracassado que buscava novamente a chance de recomeçar, portanto, o que se mostraria na tela seria primordial para a franquia obter sucesso ou não, e apesar da “tímida” produção, Homem de Ferro agradou muito e sua alta bilheteria, claro, implicou em uma das seqüências mais esperadas do ano, mas que, infelizmente, decepcionou.

O novo longa conta com um vilão, Ivan Vanko, interpretado por Mickey Rourke, que possui, por motivos completamente desconhecidos do público, um ódio mordaz pelo herói da trama, que claro, como em todas as seqüências de heróis, está em conflito com sua própria identidade. O roteiro base para todo filme de super-herói, mas que aqui simplesmente não lhe é acrescentado nada.

É fato, todos os filmes do gênero contêm ação e efeitos especiais, portanto, o diferencial deve estar no roteiro e nas atuações, justamente onde Homem de Ferro 2 deixa a desejar de maneira estrondosa. A história, que nos primeiros minutos parece mostrar um filme sombrio e maduro, aos poucos se converte em uma narrativa que se revela cada vez mais perdida, seja em seu ridículo humor que insiste até mesmo nas poucas cenas que poderiam elevar a produção, ou na atuação nada convincente de Robert Downey Jr. que parece tentar se aparecer até mesmo mais que o personagem título da trama, o que implica não em um personagem, como de fato deve ser, mas no próprio Downey Jr. em cena; diferentemente de Mickey Rourke, que mostra na tela um personagem monstruoso e fascinante, mas que infelizmente aos poucos vai se convertendo em algo cada vez mais ameno e passa a sair de cena, voltando somente ao final, quando toda a trama parece retomar a perfeita narrativa de início. Mas tarde demais, afinal, a linha narrativa ao longo do filme simplesmente não tem conteúdo algum, o que ocasiona um“enche-lingüiça” de idiotices e um irritante Robert Downey Jr.

Efeitos, explosões e muito clichê, certamente Homem de Ferro 2 agradará àqueles que admiram o entretenimento B , que não tem compromisso algum com um bom roteiro e produção, senão com efeitos e uma empolgação momentânea. Fatores estes, que depois do perfeito Cavaleiro das Trevas e Homem Aranha, já não são tão convincentes.

 
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