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A Estrada


Em 2008 o suspense e a atmosfera sinuosa e sombria ganharam os críticos de cinema. Onde os Fracos Não Têm Vez, dos irmãos Cohen, levou da Academia a estatueta de Melhor Filme e arrecadou elogios ao longo de toda sua trajetória (se merecidos ou não já é outra história). A narrativa era baseada no livro homônimo de Cormac Mccarthy, lançada no ano de 2005, autor este que no ano seguinte faria sucesso com uma de suas obras mais marcante de sua carreira literária: A Estrada, livro que conquistou fãs ao redor de todo o mundo, foi premiado e tornou-se um marco na literatura contemporânea americana, e como já se esperava, ganha agora sua adaptação aos cinemas.

A narrativa se passa em um mundo pós-apocalíptico onde quase toda a civilização já foi devastada, os animais são raríssimos, a comida já quase não existe e todo o planeta se resume em um mundo cinzento e sombrio em que os poucos humanos que restam vivem baseados em limites deploráveis da ação humana, em que, visando à sobrevivência, até mesmo o canibalismo é praticado. Tem-se o foco então em dois personagens que conduzirão o filme ao longo de toda a pesarosa saga, um pai e um filho que juntos caminham rumo ao sul na esperança de melhores condições.

Como não poderia ser diferente, a narrativa é extremamente carregada de pessimismo, tristeza e uma atmosfera que chega a beirar o deplorável, afinal, aqui se trata do fim do mundo e a narração dos últimos dias daqueles que restaram, contudo, de modo algum se vê na tela correria, tiros exacerbados ou então toda a ação que na maior parte das vezes se torna fator essencial em filmes que tem a mesma temática. Porém não é esse o foco de A Estrada, não se tem aqui a intenção de entreter o espectador com efeitos especiais ou aterrorizá-lo com todo o caos que cerca o fim do planeta, mas visa-se aqui a reflexão dos limites extremos que podem chegar as ações humanas em uma narrativa onde o homem é visto como um animal, agindo somente por seus instintos de sobrevivência, em que já não há emoções ou sentimentos que o diferencie dos demais seres.

Destaque de todo o trabalho está Viggo Mortensen (O Senhor dos Anéis) no papel de pai que, desejando a sobrevivência do filho, o ensina durante todo o tempo as “técnicas” para se sobressair no mundo pós-apocalíptico; é graças a sua atuação (em que quase não há falas, assim como a de todo o elenco) que a narrativa se torna instigante e que conduz o espectador no desejo cada vez maior de se conhecer o desfecho de toda a história, e é nesse quesito que as opiniões hão de se dividir, para alguns não haverá final melhor, já para outros a decepção será certa.

John Hillcoat, que também dirigiu o quase unanimemente desconhecido The Proposition, fez nas telas uma adaptação fiel do livro de Mccarthy, transpondo nas telas a temática e os objetivos que se visam nos livros, contudo o resultado pode não ser o mesmo e a monotonia pode não agradar, assim como a atmosfera sombria e pesarosa da narrativa que promove a reflexão acerca do papel do homem no meio.

Um bom filme, com uma direção de arte admirável e uma trilha sonora que contribui ainda mais com todo o desenvolvimento da narrativa. E uma visão tão triste, conturbada e pessimista que há de fazer qualquer um refletir por longas horas.

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